Ignorando para Conectar

Phubbing, união entre phone e snubbing (telefone + desprezo). O nome foi dado por Alex Haigh, que criou até mesmo um site sobre o fenômeno psicossocial observado nessa era tecnológica. O fenômeno diz respeito ao desprezo dado a amigos e familiares em prol da conexão virtual.

Em qualquer lugar está lá alguém conectado. Mas o problema não é esse. A questão está em ignorar o círculo social para estar frequentemente conectado.

Para que se denomine phubbing, é imprescindível que a conexão seja desnecessária, efetuada de modo automático, feita para passar o tempo, que absorva toda a concentração do conectado, que haja amigos excluídos ao redor do conectado, que seja frequente e que o praticante não consiga relaxar caso não esteja conectado, ou seja, há uma relação de dependência que muitos estudos comparam com os mesmos efeitos que as drogas.

Socialmente o phubbing pode ser considerado falta de etiqueta. Psicologicamente nos demonstra a forma de relação das pessoas com a tecnologia e com os amigos na atualidade. 

Não faz muito tempo que Zygmunt Bauman escreve um livro chamado 'Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos'.

Neste livro, Bauman diz:

“A realização mais importante da proximidade virtual parece ser a separação entre comunicação e relacionamento. Diferentemente da antiquada proximidade topográfica, ela não exige laços estabelecidos de antemão nem resulta necessariamente em seu estabelecimento. "Estar conectado" é menos custoso do que "estar engajado" — mas também consideravelmente menos produtivo em termos da construção e manutenção de vínculos”.

Neste livro, Bauman defende que uma nova realidade se apresenta: a virtual. Estamos num bar, mas ignoramos os amigos ao redor para estarmos na nova realidade virtual. Ali, sustentamos máscaras mais facilmente do que no mundo social. Na rede, todos somos modelos, artistas, famosos, românticos, ideais, perfeitos. Ali, realizamos nosso ego ideal e tapamos o furo psicológico que a imperfeição humana nos impõe.

Com isso, se vai a habilidade do diálogo, do xaveco, do bate-papo, da espontaneidade e as habilidades sociais. Não é difícil encontrarmos pessoas monossilábicas e extremamente tímidas em contatos sociais, mas que pela internet são tagarelas e totalmente simpáticas. Na rede, encarar o outro se torna mais fácil, um outro que pode ser crítico, chato pessoalmente, com todas as suas oportunidades de julgamentos e olhar reprovador.   

A tecnologia também reduziu a nossa capacidade de manutenção de concentração. Quantos conseguem ficar mais de uma hora assistindo uma palestra se ela não fizer rir? Neurologicamente se alguma coisa não for vibrante, colorida, movimentada, agitada e fluorescente, ela não prende nossa atenção. Nosso cérebro de hoje está diferente do cérebro de nossos avós, na época do rádio. As conexões neurais mudaram com certeza, mas o phubbing não se resume somente a configurações neuronais específicas. Os neurônios se harmonizam com relações psicossociais específicas, mas o cerne da questão é a relação psicossocial que estabelecemos com a tecnologia nesses tempos.

A proximidade virtual e a não-virtual trocaram de lugar: agora a variedade virtual é que se tornou a ‘realidade’, segundo a descrição clássica de Émile Durkheim.”  Zygmunt Bauman

Dentre causas simples para o impulso momentâneo do phubbing está a inabilidade social, a facilidade extrema com a conexão, a diminuição da capacidade de concentração, a superficialidade das relações humanas, etc.

Já dentre as causas psíquicas profundas estão: o fetiche de realizar desejos psíquicos e fantasias pela internet, a facilidade de ostentar uma imagem corporal e ideal, a proteção que a máscara proporciona, a modelagem de uma relação superficial, plástica e perfeita pela internet, etc. Leia depois o artigo Sexo Virtual

Socialmente, podemos listar fenômenos de dentro e fora da família, tais como: a desvinculação afetiva entre pais e filhos, a ausência de educação emocional em casa, ausência de contato afetivo entre pais e filhos, (não o confunda com contato social), a liberalização da sexualidade, etc. Leia depois o texto Família também é Trabalho, onde abordo a importância do tempo em família. 

Ou seja, o phubbing é um efeito da atualidade, um fenômeno que marca nossa era demonstrando aspectos psicossociais claros. Há múltiplas causas que a definem e pode apresentar prejuízos severos para os seus praticantes, caso o comportamento esteja em homeostase (equilíbrio que não incomoda o portador) e se alie a retraimento social, timidez, autoestima rebaixada e depressão.

O phubbing é mais grave do que se pensa devido a suas múltiplas apresentações: pode ser na sala de aula, na missa, no culto, na festa, na rede de amigos, no almoço de negócios, no churrasco em família, na hora do jantar familiar, etc.

Sugere-se que haja uma educação tecnológica com as crianças dessa nossa era. Os pais precisam se cuidar para que possam exigir horas máximas de conexão de seus filhos. De 3 a 5 anos no máximo 30 minutos diários; de 6 a 8, 40 minutos; de 9 a 11, 50 minutos; de 12 a 14 anos 1 hora. E não se deve permitir mais do que duas horas diárias para crianças devido ao efeito de diminuição da concentração, geração de ansiedade, impossibilidade de treinamento das habilidades sociais e afetivas, dentre outros efeitos psicopatológicos nas crianças.

A proximidade virtual reduz a pressão que a contiguidade não-virtual tem por hábito exercer. Ela também estabelece o padrão para todas as outras proximidades. Toda proximidade está agora no limite de medir seus méritos e falhas pelo modelo da proximidade virtual”. Zygmunt Bauman


Algumas perguntas para reflexão:
  • Por que a ansiedade de ver os comentários do post é mais importante do que os pensamentos do outro que está diante de você?
  • Por que conversar virtualmente é mais interessante do que pessoalmente? Qual a diferença e ou a facilidade?
  • Por que precisamos checar o celular de 5 em 5 minutos? Não se pode esperar?
  • Por que a ânsia sobre o que comentam na rede sobre você? Pessoalmente não vale pedir essa opinião?
  • Virtualmente estamos mais protegidos do que pessoalmente? Nossas máscaras não caem?
  • Que habilidades sociais você espera desenvolver pela internet?

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