'SEXO' VIRTUAL?


Texto publicado pela Revista Casal Feliz da Convenção Batista Brasileira


Este texto é de versão cristã. Há um outro que trata da temática no site. É uma entrevista concedida ao Jornal da Universidade Católica de Pernambuco. 

Estamos em pleno século de relacionamentos virtuais e um fato é agravante: Esta é a geração cujos pais não souberam educar seus jovens para o manejo da internet justamente por não terem contato com tal ferramenta. A consequência negativa da ausência da cibereducação é o vício por computadores.

O cibervício pode culminar em varias tipologias como o vício por internet, o vício por mundos virtuais, além do ciberadultério, o cibersexo (estimulação sexual por computador) e o ciberporno (consumo de produtos pornográficos por computador).

Psiquiatras do Projeto de Dependentes de Internet do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP) estimam que cerca de 2,5 milhões de brasileiros podem ser viciados em internet, abrangendo 10% da população entre homens e mulheres de qualquer idade ou classe social.

Segundo a coordenadora do Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática da PUC-SP, a psicóloga Rosa Maria Farah, esses comportamentos são muito mais sintomas do que problemas em si mesmos, pois as pessoas já trazem alguma dificuldade de fundo que se manifesta desta forma.

O vício em computador e internet se assemelham ao vício por drogas e álcool. O viciado possui estado de dependência, síndrome de abstinência e experimenta graus elevados de ansiedade por não estar conectado ao computador. Dentre todos os vícios, o “sexo” virtual pode ser um dos perigos para o cristão.


Visão bíblica do sexo

Sexo é um tema polêmico, ainda mais se for “sexo” virtual e numa temática cristã. Portanto, precisamos refletir sobre o tema para evitar radicalismos e para nos mantermos santos como deseja Cristo.

Diante do sexo a sociedade comporta-se quase exclusivamente por dois pólos: Permissividade (liberdade sexual onde tudo pode e ninguém tem nada a ver com isso) e repressão (motivada pelo tabu que considera o sexo um pecado do qual devemos nos purificar). A verdade é que o cristão deve evitar os dois pólos.

A Bíblia regulamenta o sexo como uma prática que deve ser realizada entre um homem e uma mulher casados com o respeito do consentimento mútuo sobre o que fazer na relação. Porém, tudo mediado pelos padrões bíblicos. A Bíblia impede a bestialidade (sexo com animais), o adultério (que pode se manifestar em pensamentos ou fantasias), a homossexualidade, a prostituição, a fornicação, o estupro, o incesto, os coitos abusivos e a lascívia.

A forma do sexo não é regulamentada pela Bíblia, mas o casal casado não deve romper os princípios acima elencados no relacionamento íntimo. Contudo, a ausência de regulamentação da forma do sexo na Bíblia não é evidência de liberalidade, pois o pecado pode estar na mente do cristão antes de o ato se consumar.

Caso se pense o livro de Cantares como uma poesia sobre o sexo, é possível perceber que o ato sexual envolve aspectos como interação corporal, sedução audiovisual e tátil, comunicação de palavras, demonstrações de afeto, carinho e amor, embelezamento do corpo, preparação para o ato, divagações de pensamentos e fantasias, tensão e desejo corporal, casamento, intimidade e o ato em si.

Portanto, biblicamente o sexo é um relacionamento integral que tem o intuito de fundir momentaneamente o corpo, a alma, o espírito e o intelecto. Sexo é estudo do outro, é dar no ato de receber, é não ser egoísta para visar somente o receber. Alguns casais não sabem, mas as preliminares da relação sexual que acontecerá à noite começam pela manhã ao se dar um bom dia com amor e atenção. O sexo é o apogeu do amor e do respeito mútuo diário entre o casal.


“Sexo” virtual é pecado?

Tanto o cristão casado quanto o solteiro deve observar princípios bíblicos quanto a essa prática. A primeira questão para os casados seria então: “Sexo” virtual é pecado? Entretanto, antes de respondermos a esta pergunta, uma outra nos surge: Existe realmente “sexo” virtual?

Neste caso, devemos usar a palavra “sexo” entre aspas, por considerar que não há relação sexual nessa forma de relacionamento íntimo. Não há sexo pela internet. Há apenas autoestimulação auditiva e visual diante de palavras de outra pessoa vinda pelo computador. Não há interação tátil.

Assim, “sexo” virtual não é sexo e nem deve substituí-lo. Entretanto, não é por não haver sexo que os casados e solteiros estão livres para fazer o que bem entenderem desconsiderando outros mandamentos bíblicos. Os solteiros devem entender que, apesar de não haver uma relação sexual completa, existe uma intimidade sexual e libidinosa envolvida no âmbito imaginário.

Ao afirmar que quem cobiça a mulher do próximo já está pecando, Jesus quis dizer que o pecado está mesmo em pensamento e antes mesmo da realização do ato.

Além disso, a prática do sexo por computador pode se tornar um ato pecaminoso caso os pensamentos do cristão se transformem em devaneios contra a fidelidade conjugal e caso a integralidade do ato sexual fique comprometida a ponto de gerar transtornos psicológicos. Deus certamente não fez o sexo para ser constantemente praticado de forma parcial e assim gerar problemas psicológicos no templo do Espírito Santo.

Um objetivo psicológico e fantasioso do sexo é a fusão com determinados aspectos do outro de maneira imaginada através da interação corporal. Quando esse objetivo é constantemente frustrado, pode gerar síndromes de ansiedade e de angústias incontroláveis, justamente por não atenuar toda a libido sexual durante o coito.

Tendo já chegado à conclusão de que não existe “sexo” virtual, mas apenas estimulação sensorial e imaginativa, resta-nos avaliar se essa relação virtual entre cristãos casados é ou não pecado.

“Sexo” virtual é pecado? Para responder a esta pergunta, deve-se primeiro perguntar: “Sexo” virtual com quem? Em que circunstância? Privado ou em público? Com que frequência? Extrapolando a privacidade e o respeito? É conveniente para ambos? Eventualmente ameniza distâncias geográficas? Por que dessa forma?

Utiliza-se o pensamento para completar as sensações lidas e vistas pelo computador ou telefone? Se sim, em que ou em quem se pensa? Pode-se controlar o pensamento e ser fiel na fantasia? Perguntas assim ajudam a amenizar radicalismos e a nos manter no bom-senso.

Nem o radicalismo, nem o liberalismo sexual precisam ser princípios de vida sexual para o cristão. Existe a possibilidade de eventualmente o casal cristão realizar algumas estimulações sensoriais e imaginativas por meio da rede mundial de computadores. Contudo, o bom-senso, a garantia de privacidade, a fidelidade e o respeito mútuo precisam ser princípios de conduta para que essa forma não prejudique nem a relação nem o templo do Espírito Santo.

A eventualidade de uma viagem e da distância pode ser amenizada com uma relação virtual íntima, mas sua frequência e exclusividade podem determinar o fracasso de uma relação que não chega às vias de fato ou que mesmo compromete a fidelidade através da traição por pensamentos fantasiosos diante do computador.


O cristão casado precisa de equilíbrio


Sexo é comunicação. Comunicação tanto de amor quanto de carinho. Essa comunicação se dá intimamente pelo corpo, pelos gestos, pelas palavras e pelas atitudes. Enfim, pela relação integral entre corpos, almas, mentes e espíritos de dois seres biblicamente casados e do sexo oposto.

Quando se define o sexo assim, fica evidente que não dá para se relacionar integralmente pela internet. Se essa forma de comunicação utiliza o corpo, o olhar, as palavras e visa estimular percepções, sensações e emoções como o ápice do bom relacionamento entre dois seres do sexo oposto casados biblicamente, então não pode haver interação sexual satisfatória pelo computador entre cristãos casados.

Todas as coisas nos são lícitas, mas nem todas nos convêm. Além disso, não devemos nos deixar dominar por nenhuma delas. O bom senso, o equilíbrio e a eventualidade são os princípios que devem reger a vida do casal cristão frente ao “sexo” virtual. Segundo o Novo Testamento, pecamos mesmo por pensamentos. Desta forma, o nosso desafio é o de permanecermos santos diante do computador.


Dr Marcelo Quirino é Psicólogo Clínico formado pela UFRJ

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