-->

Com relação a amor e paixão, já escrevi sobre a Carência Afetiva numa outra oportunidade e nesse texto presto-me a uma análise sobre as relações que se caracterizam por altos e baixos emocionais, ou as chamadas relações entre tapas e beijos.
No
texto Os
Ruídos da Comunicação Familiar a gente pode analisar alguns empecilhos
relacionados à comunicação afetiva. São conflitos que estão presentes em
qualquer relação. Entretanto, há pessoas que só conseguem se relacionar entre
tapas e beijos. Parece que esse tipo de relação as persegue. Por quê?
Precisamos
saber que a instabilidade emocional na relação pode ser circunstancial (depende
de algum fato), eventual (vez ou outra aparece) e perene (contínua). Nosso objeto
de análise é esta última.
Por que tem gente que só
consegue viver entre tapas e beijos?
Há
dois fatores que explicam essa obstinação por altos e baixos nos
relacionamentos. O primeiro é a personalidade. As pessoas que sustentam
relacionamentos com altos e baixos tendem a idealizar muito o outro. São
intolerantes, e não suportam diferenças. Ela é verdadeira demais. Ela projeta
no outro aspectos negativos dela própria. Ela não admite a liberdade do outro.
É possessiva. É narcísica.
Esse
é um aspecto psicopatológico. Geralmente são pessoas intensas na expressividade
emocional. Impulsivas e tomadas por arroubos emocionais.
O
segundo é o próprio aspecto afetivo. Amar e relacionar-se é em si conflituoso.
Alguns têm o amor como sonho cor de rosa e não possui habilidades para lidar com
conflitos. A paixão é conflituosa porque diz respeito a desejo. O desejo é
parcial, nos apaixonamos por determinados aspectos do outro. Alguma coisa nele
que nunca sabemos o que é e no máximo dizemos: ‘é o jeitinho dele ou dela’.
O
desejo nos diz de algo que precisamos no outro. Quero uma parte, mas o outro é
completo e complexo com aspectos diferentes e intoleráveis por nós. Ou porque
esses aspectos são parecidos conosco ou porque nos deixam mal. podemos ainda
odiar o outro porque precisamos demais dele.
O Outro é um Invasor
Temos
que ter em mente que relacionamento social é invasão. Tanto o amoroso quanto o
social. O que invade? O mundo do outro e seu jeito de ser. Quando sou invadido,
sou modificado. Se o produto é bom, se torna atraente, se é monótono, se torna
chato. Mas precisamos nos conscientizar que relação é invasão. Desejos,
pensamentos, clima, humor, tudo me invade.
Com
a proximidade, há intimidade e possibilidade de ver no outro o seu mundo. Dessa
forma vejo tudo o que me agrada e o que não me agrada. Vejo no outro o que eu
preciso muito e não tenho: isso cria relação de idealização e vínculos de dependência.
E vejo no outro o que não suporto e odeio: cria conflitos e tapas. O texto Amor,
Desejo e Desamparo traça um pouco essa analise sobre a fantasia.
Viver
entre tapas e beijos é uma expressão de ‘eu te preciso, mas eu não te tolero em
alguma coisa’. Isso é paradoxal. Mas por que é paradoxal? Porque o desejo não
tem lógico, não tem razão. Queremos que ele tenha, mas não tem.
Nos
apaixonamos pela pessoa errada. E isso pode desencadear relação de tapas e
beijos porque justamente ela e a pessoa errada e isso eu não suporto. Não
suporto porque dependo. Só ele tem isso e mais ninguém.
Posso
viver em tapas e beijos porque a intimidade me possibilita ver coisas mais de
perto. E todos os aspectos do outros que me são intoleráveis, eu consigo ver
mais detalhadamente.
Posso
ainda viver entre tapas e beijos porque faz parte de minha personalidade não
respeitar o espaço do outro que convive comigo. Sou controlador, chato,
obsessivo, compulsivo, possessivo e ao mesmo tempo nós nos precisamos muito
porque há nele algo que desconheço, mas que preciso muito e que mexe comigo.
Por
que há tapas e beijos? Porque nos relacionamos com o mundo do outro e não
somente com aquilo que atraiu nosso desejo. O desejo se apega a aspectos, a
jeitos de ser, é parcial. Tanto é que nunca sabemos ao certo o que nos atraiu
naquela pessoa. Pra algumas mulheres é justamente a capacidade que o homem tem
de invadi-la socialmente com respeito: a pegada é uma invasão, o olhar
penetrante também, as palavras carinhosas no ouvido nem se falam, abrir a porta
do carro é deixar ser invadido por alguém que você quer cuidar. No texto Formas
da Paixão Feminina e Masculina descrevo um pouco melhor essa forma da paixão.
Dessa
forma, o relacionamento do desejo é parcial. Já o relacionamento social é
integral. Precisamos tolerar defeitos e qualidades. E é justamente a
intolerância que possibilita as tapas.
Relação com Altos e Baixos é
Mais Interessante?
A
relação com altos e baixos dura mais se o casal se ajustar apesar dos 'baixos'. Duram
mais quando não conseguem se separar porque julgam o outro imprescindível. Isso
porque o desejo aprisiona, não é da ordem da razão. Aqui o problema é não conseguirem se separar.
As
relações estáveis podem ser mais chatas. Como se ajustar a um chato que
não me deseja? Aqui o problema é a dificuldade de se juntar.
Duram
mais se os envolvidos nesse tipo de relação puderem de alguma forma se adaptar
ao modo de ser do outro. Se alguém apesar dos altos e baixos puder suportar e
ser de alguma forma dependente de algum aspecto do outro.
Há
relações extremamente violentas para um dos parceiros, mas mesmo assim duram.
Por quê? Por que houve adaptação, que pode ser do tipo dependência emocional,
financeira ou até mesmo social.
Por
outro lado há relações extremamente respeitosas onde um pede licença para o
outro para poder passar, fala ‘por favor, me passe isso, ou aquilo’ e são
relações frias, à beira da falência, apesar de haver respeito, só que o
respeito é exagerado. Todo respeito exagerado é monótono. É chato. A gente
precisa ser invadido pelo outro, e isso é relação social e amorosa. Mas essa
invasão tem que ser interessante. O mundo do outro que me invade tem que ser
atraente. O que é o tímido: é o que não invade e procura não invadir. Pede
sempre licença pra tudo com medo, receio e paranoia de não gostar e não ser
gostado.
Daí
a gente se questiona: o que sustenta uma relação? O amor, a paixão, o sexo. Não. É o desejo e a fantasia. Há em mim uma regra irracional que me diz
inconscientemente o que me atrai. A regra é a fantasia e o desejo que me causam atração, identificação. Somos controlados por isso? Nem sempre. Temos defesas psicológicas
contra nossos desejos e isso é parte em uma neurose. Às vezes não temos nenhuma defesa e isso ocasiona impulsividade, o ser livre e talvez inconseqüente.
Numa
relação social, o que traz o 'tchan' é justamente esse grau de invasão
interessante, que deixa intacto o outro, mas ao mesmo tempo o modifica. Por isso
que queremos conhecer pessoas novas: para sermos invadidos e invadir.
Relações
respeitosas demais não invadem e as violentas demais invadem ao extremo e
destroem. O equilíbrio é invadir, mantendo a estrutura existente com algum grau
de modificação benéfica para ambos.
Nas
relações ‘tapas e beijos’ há um alto grau de adrenalina e excitação. Geralmente
há uma atração libidinosa enorme, uma vontade de ter o outro e possuí-lo. Mas
por que há tapas então: porque a posse é impossível e a independência desse
outro também.
Quais as vantagens e
desvantagens desse tipo de relação?
Psicologicamente
podemos falar em fenômenos. Desvantagem e desvantagem é um juízo de valor
relacionado às preferências de cada casal.
Os
fenômenos observados são: é a saída da monotonia, é a excitação, é a presença
da angústia que me move a melhorar. Esse tipo de relação possui muita libido
envolvida, vontade de ter o outro. Paixão. O que poderia ser chamado de vantagem,
pra alguns.
A
desvantagem já seria é a invasão do espaço psicológico do outro, a chantagem, a
relação violenta, a sensação de dependência, o estresse. Mas tem quem só
consiga viver assim: na desvantagem.
Vantagem
e desvantagem é o outro quem vai julgar o que é. Pode-se tolerar um cara chato,
mas justamente só porque ele tem pegada. Agora não tolero mulher falante
demais, mesmo que ela tenha o corpão da Mulher Fruta. Tudo vai depender do que
preciso naquele momento.
No
texto Fazendo
um DR Eficaz estão sugeridas algumas atitudes para mulheres e que talvez
sejam adequadas para a discussão da relação. Vale a pena conferir.
Achei uma coisa estranha aí: MECHE (mexer)
ResponderExcluirGrato, amigo. Sempre tem um que passa, mesmo a um segundo olhar atento...
Excluir