Entrevista TV Brasil (Tapas e Beijos)


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Este é um texto-base que elaborei sobre o que foi falado na entrevista ao Programa Comentário Geral da TV Brasil. Não é a íntegra da entrevista. O programa foi em homenagem ao dia do beijo e foi ao ar no dia 13 de abril de 2011.
 
Com relação a amor e paixão, já escrevi sobre a Carência Afetiva numa outra oportunidade e nesse texto presto-me a uma análise sobre as relações que se caracterizam por altos e baixos emocionais, ou as chamadas relações entre tapas e beijos.

No texto Os Ruídos da Comunicação Familiar a gente pode analisar alguns empecilhos relacionados à comunicação afetiva. São conflitos que estão presentes em qualquer relação. Entretanto, há pessoas que só conseguem se relacionar entre tapas e beijos. Parece que esse tipo de relação as persegue. Por quê?

Precisamos saber que a instabilidade emocional na relação pode ser circunstancial (depende de algum fato), eventual (vez ou outra aparece) e perene (contínua). Nosso objeto de análise é esta última.   


Por que tem gente que só consegue viver entre tapas e beijos?

Há dois fatores que explicam essa obstinação por altos e baixos nos relacionamentos. O primeiro é a personalidade. As pessoas que sustentam relacionamentos com altos e baixos tendem a idealizar muito o outro. São intolerantes, e não suportam diferenças. Ela é verdadeira demais. Ela projeta no outro aspectos negativos dela própria. Ela não admite a liberdade do outro. É possessiva. É narcísica.

Esse é um aspecto psicopatológico. Geralmente são pessoas intensas na expressividade emocional. Impulsivas e tomadas por arroubos emocionais. 

O segundo é o próprio aspecto afetivo. Amar e relacionar-se é em si conflituoso. Alguns têm o amor como sonho cor de rosa e não possui habilidades para lidar com conflitos. A paixão é conflituosa porque diz respeito a desejo. O desejo é parcial, nos apaixonamos por determinados aspectos do outro. Alguma coisa nele que nunca sabemos o que é e no máximo dizemos: ‘é o jeitinho dele ou dela’.

O desejo nos diz de algo que precisamos no outro. Quero uma parte, mas o outro é completo e complexo com aspectos diferentes e intoleráveis por nós. Ou porque esses aspectos são parecidos conosco ou porque nos deixam mal. podemos ainda odiar o outro porque precisamos demais dele.


O Outro é um Invasor

Temos que ter em mente que relacionamento social é invasão. Tanto o amoroso quanto o social. O que invade? O mundo do outro e seu jeito de ser. Quando sou invadido, sou modificado. Se o produto é bom, se torna atraente, se é monótono, se torna chato. Mas precisamos nos conscientizar que relação é invasão. Desejos, pensamentos, clima, humor, tudo me invade.

Com a proximidade, há intimidade e possibilidade de ver no outro o seu mundo. Dessa forma vejo tudo o que me agrada e o que não me agrada. Vejo no outro o que eu preciso muito e não tenho: isso cria relação de idealização e vínculos de dependência. E vejo no outro o que não suporto e odeio: cria conflitos e tapas. O texto Amor, Desejo e Desamparo traça um pouco essa analise sobre a fantasia.

Viver entre tapas e beijos é uma expressão de ‘eu te preciso, mas eu não te tolero em alguma coisa’. Isso é paradoxal. Mas por que é paradoxal? Porque o desejo não tem lógico, não tem razão. Queremos que ele tenha, mas não tem.  

Nos apaixonamos pela pessoa errada. E isso pode desencadear relação de tapas e beijos porque justamente ela e a pessoa errada e isso eu não suporto. Não suporto porque dependo. Só ele tem isso e mais ninguém.

Posso viver em tapas e beijos porque a intimidade me possibilita ver coisas mais de perto. E todos os aspectos do outros que me são intoleráveis, eu consigo ver mais detalhadamente.

Posso ainda viver entre tapas e beijos porque faz parte de minha personalidade não respeitar o espaço do outro que convive comigo. Sou controlador, chato, obsessivo, compulsivo, possessivo e ao mesmo tempo nós nos precisamos muito porque há nele algo que desconheço, mas que preciso muito e que mexe comigo.

Por que há tapas e beijos? Porque nos relacionamos com o mundo do outro e não somente com aquilo que atraiu nosso desejo. O desejo se apega a aspectos, a jeitos de ser, é parcial. Tanto é que nunca sabemos ao certo o que nos atraiu naquela pessoa. Pra algumas mulheres é justamente a capacidade que o homem tem de invadi-la socialmente com respeito: a pegada é uma invasão, o olhar penetrante também, as palavras carinhosas no ouvido nem se falam, abrir a porta do carro é deixar ser invadido por alguém que você quer cuidar. No texto Formas da Paixão Feminina e Masculina descrevo um pouco melhor essa forma da paixão.

Dessa forma, o relacionamento do desejo é parcial. Já o relacionamento social é integral. Precisamos tolerar defeitos e qualidades. E é justamente a intolerância que possibilita as tapas.


Relação com Altos e Baixos é Mais Interessante?

A relação com altos e baixos dura mais se o casal se ajustar apesar dos 'baixos'. Duram mais quando não conseguem se separar porque julgam o outro imprescindível. Isso porque o desejo aprisiona, não é da ordem da razão. Aqui o problema é não conseguirem se separar.

As relações estáveis podem ser mais chatas. Como se ajustar a um chato que não me deseja? Aqui o problema é a dificuldade de se juntar.

Duram mais se os envolvidos nesse tipo de relação puderem de alguma forma se adaptar ao modo de ser do outro. Se alguém apesar dos altos e baixos puder suportar e ser de alguma forma dependente de algum aspecto do outro.

Há relações extremamente violentas para um dos parceiros, mas mesmo assim duram. Por quê? Por que houve adaptação, que pode ser do tipo dependência emocional, financeira ou até mesmo social. 

Por outro lado há relações extremamente respeitosas onde um pede licença para o outro para poder passar, fala ‘por favor, me passe isso, ou aquilo’ e são relações frias, à beira da falência, apesar de haver respeito, só que o respeito é exagerado. Todo respeito exagerado é monótono. É chato. A gente precisa ser invadido pelo outro, e isso é relação social e amorosa. Mas essa invasão tem que ser interessante. O mundo do outro que me invade tem que ser atraente. O que é o tímido: é o que não invade e procura não invadir. Pede sempre licença pra tudo com medo, receio e paranoia de não gostar e não ser gostado.  

Daí a gente se questiona: o que sustenta uma relação? O amor, a paixão, o sexo. Não. É o desejo e a fantasia. Há em mim uma regra irracional que me diz inconscientemente o que me atrai. A regra é a fantasia e o desejo que me causam atração, identificação. Somos controlados por isso? Nem sempre. Temos defesas psicológicas contra nossos desejos e isso é parte em uma neurose. Às vezes não temos nenhuma defesa e isso ocasiona  impulsividade, o ser livre e talvez inconseqüente. 

Numa relação social, o que traz o 'tchan' é justamente esse grau de invasão interessante, que deixa intacto o outro, mas ao mesmo tempo o modifica. Por isso que queremos conhecer pessoas novas: para sermos invadidos e invadir.

Relações respeitosas demais não invadem e as violentas demais invadem ao extremo e destroem. O equilíbrio é invadir, mantendo a estrutura existente com algum grau de modificação benéfica para ambos. 

Nas relações ‘tapas e beijos’ há um alto grau de adrenalina e excitação. Geralmente há uma atração libidinosa enorme, uma vontade de ter o outro e possuí-lo. Mas por que há tapas então: porque a posse é impossível e a independência desse outro também.


Quais as vantagens e desvantagens desse tipo de relação?

Psicologicamente podemos falar em fenômenos. Desvantagem e desvantagem é um juízo de valor relacionado às preferências de cada casal.

Os fenômenos observados são: é a saída da monotonia, é a excitação, é a presença da angústia que me move a melhorar. Esse tipo de relação possui muita libido envolvida, vontade de ter o outro. Paixão. O que poderia ser chamado de vantagem, pra alguns.

A desvantagem já seria é a invasão do espaço psicológico do outro, a chantagem, a relação violenta, a sensação de dependência, o estresse. Mas tem quem só consiga viver assim: na desvantagem.

Vantagem e desvantagem é o outro quem vai julgar o que é. Pode-se tolerar um cara chato, mas justamente só porque ele tem pegada. Agora não tolero mulher falante demais, mesmo que ela tenha o corpão da Mulher Fruta. Tudo vai depender do que preciso naquele momento.

No texto Fazendo um DR Eficaz estão sugeridas algumas atitudes para mulheres e que talvez sejam adequadas para a discussão da relação. Vale a pena conferir. 


2 comentários :

  1. Achei uma coisa estranha aí: MECHE (mexer)

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    1. Grato, amigo. Sempre tem um que passa, mesmo a um segundo olhar atento...

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