Os Ruídos da Comunicação Familiar


Comunicar-se é uma tarefa essencial para a interação humana. Em família essa atividade precisa ser mais do que uma tarefa, precisa alcançar o nível de habilidade. Comunicar não é o mesmo que informar, noticiar, transmitir, apesar de passar por isto. 

Ha textos que abordei essa temática e que são complementares a essa tarefa de comunicação: o primeiro é Motivações Oculta dos Liderados, onde falo das motivações latentes de uma pessoa e o texto Princípios de Comunicação em Liderança, onde abordo o tema da congruência em comunicação.


Alguns casais pensam que estão comunicando, quando na verdade estão monologando paralelamente. Comunicar é uma atividade ativa e passiva de intercâmbio mínimo entre duas pessoas que interagem palavras a partir da escuta do outro.

A comunicação é efetuada no nível das palavras, do emocional, do gestual e do corporal. Quem comunica, só está consciente do nível das palavras. Quem ouve capta todos os níveis de forma consciente ou não. Mas quem comunica só consegue ouvir as próprias palavras na maioria das vezes.

No mecanismo de comunicar existe uma problemática ou fato percebido e avaliado, uma elaboração desse fato em pensamentos, a estruturação em frases junto com o tom emocional, afetivo e corporal e a comunicação propriamente dita.

Em quem ouve há a audição da comunicação, o entendimento do fato ao qual se refere o outro, a elaboração mental do que foi dito por palavras, emoções, gestos e expressões corporais, a análise mental do que foi dito sobre o fato relatado e a devolução da comunicação.


A Comunicação é Sujeita a Falhas

Percebe-se que pelo tamanho de seu mecanismo a comunicação é uma atividade sujeita a falhas, tanto pelos níveis inconscientes não percebidos na hora de comunicar, quanto pelos mundos diferentes que compartilham os comunicantes.

Essas falhas que atrapalham a comunicação se chamam ruídos. Proporcionam ouvir o que não foi dito, ocasionando julgamentos errados do outro. Proporcionam entendimento equivocado, reações incoerentes e respostas destoantes do contexto da conversa.

Comunicar é necessariamente expressar conteúdos (pensamentos, sentimentos, ideias, emoções, fatos, etc.) junto com ruídos. Toda comunicação está sujeita a ruídos que prejudicam o entendimento mútuo. Em família não é diferente.

Esses ruídos podem estar tanto na comunicação quanto na mente de quem ouve. O ruído é, portanto, consequência necessária da interação entre duas falas de diferentes personalidades.

Algumas pessoas reagem à falha da comunicação, não ao seu conteúdo. A família precisa desenvolver habilidade para perceber e esclarecer esses ruídos.

Para comunicar eficientemente a família deve o tempo todo comunicar conteúdos e conversar sobre a forma de comunicação de todos. Não basta ouvir, é preciso estudar o padrão de comunicação do outro. 

Para diminuir esses ruídos, é necessário uma rlação familiar saudável. Já delieei algumas técnicas para isso no texto Sugestões para o Relacionamento Familiar.


Alguns Ruídos da Comunicação Familiar

O primeiro ruído está na incapacidade de comunicar-se, de pôr em palavras aquilo que sente e percebe de si mesmo e do mundo ao redor. O componente familiar não consegue pôr em palavras todos os seus sentimentos, emoções e ideias de forma clara e integral.

O resultado dessa incapacidade proporciona uma comunicação inverídica e inexata com uma avalanche de comunicação inconsciente acompanhada de muita ansiedade resultante da tentativa de comunicar. Esta falta de habilidade de comunicar e de autocontrole da ansiedade gera mais dificuldade na comunicação familiar.

Um exemplo simples. O esposo pode ter se sentido diminuído quando a esposa retira a sua autoridade na frente dos filhos. No momento de conversar sobre isso, o esposo diz que essa atitude é feia e mais nada. O esposo perdeu a oportunidade de comunicar seus sentimentos e sua sensação diante do que ocorrera, pois não soube falar disso.

Portanto, o membro da família deve deixar claro se isso for um problema em sua forma de comunicação. Conversar sobre sua impossibilidade de falar de sentimentos e desejos. Quando percebido em família, outro componente deve ajudar fazendo perguntas especificas que estimulem o outro a conversar sobre seus sentimentos.

Um segundo ruído de comunicação muito comum é ocasionado pela visão preconceituosa construída ao longo do tempo de convivência em família. O preconceito aqui referido não é o preconceito racial, étnico, sexual ou social. É o preconceito psicológico.

Uma dos membros familiares constrói uma imagem do outro de acordo com algumas expectativas, fatores e características. Com isso constrói uma personalidade para o outro componente familiar. Essa imagem construída vai guiar o processo de comunicação de ambos.

Um exemplo simplório. A esposa constrói a imagem de que seu esposo é medroso. Qualquer tentativa de ele ser prudente será encarada como motivada pelo seu medo. Essa construção preconceituosa pode acontecer entre toda a família.

Para dissipar ruídos da comunicação só mesmo comunicando. Conversar sobre essas visões que um tem do outro num clima amigável pode ser uma saída preventiva que evitar desentendimentos futuros. Estar disposto a falar e a ouvir queixas é menos doloroso do que sair ferido psicologicamente por causa de um preconceito inverídico.

Um terceiro exemplo de ruído é proporcionado pela comunicação inexistente. Por não se comunicarem com freqüência sobre fatos, medos, anseios, desejos e expectativas, comportamentos, regras e etc., muitos assuntos ficam mal resolvidos e acabam voltando na discussão misturando assunto sobre assunto.

Um exemplo desse ruído. O filho nunca conversa com o pai sobre o autoritarismo injusto dele. No momento de conversarem sobre o dever de casa que o menino não fez, o filho reage impulsiva e desobedientemente retratando-se ao autoritarismo do pai de forma violenta. Dessa forma, misturam-se temas de autoritarismo e de desobediências do filho numa mesma conversa.

Em famílias onde inexiste comunicação sobre desejos, medos, expectativas, etc., a melhor saída é buscar a interação através de outras formas tal como falando sobre outro assunto similar, conversando sobre trabalho ou sobre um programa de televisão até que todos estejam à vontade para falar do tema problemático.

Um quarto exemplo de ruído está relacionado a conflito de gerações. Entendido de forma ampla é a falta de empatia entre pais e filhos para um buscar entender o outro antes de comunicar. Entender aqui não significa ter libertinagem na educação e nem ser complacente com desobediências e com deslealdade conjugal.

Um exemplo é quando os filhos não obedecem aos pais quanto a uma regra de chegar cedo em casa por causa da violência do bairro. Os pais então reagem impondo mais regras injustas e especificas ainda. Os filhos reagem com mais desobediência a essas novas e antigas regras.

Nos conflitos de gerações a iniciativa deve partir dos pais para esclarecer determinadas regras. Entretanto o medo de perder a autoridade impede isso. Pais devem saber que conversar sobre as regras não é sinônimo de perder autoridade, pelo contrário pode ser sinal de reforçá-las.


O Desafio de Comunicar-se

Para lidar com esses ruídos é imprescindivel saber ouvir o outro. Há um texto onde delinei algumas técnicas para livrar-se das distorções perceptivas que sempre temos ao ouvir o outro. Esse texto é A Função de Escuta e o Papel de Aconselhamento na Liderança, que lista técnicas de audição junto com o texto Princípios Básicos do Aconselhamento. Ambos textos técnicos e práticos.  

Comunicar, portanto é acima de tudo ser humilde. Humilde para voltar o olhar sobre si mesmo e permitir-se uma autocrítica a partir da introspecção.

Para diminuir a freqüência desses ruídos da comunicação entre o casal e a família é necessária uma abordagem tática centrada em empatia e introspecção.

Entretanto essas táticas não funcionam se não houver disponibilidade para mudanças sobre a forma de comunicar-se.

Para comunicar-se eficientemente em família, é necessário entender o mundo do outro, a fim de procurar entender suas necessidades e adaptar a própria comunicação a partir dessa constatação.

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