AMOR, DESEJO FANTASIADO E DESAMPARO INFANTIL


Algumas considerações científicas e clínicas da fantasia do Ego, dos desejos do amor, da repressão do Superego e uma possível ocultação da depressão atípica através do pânico.

Música de Creed que fala de um amor vivido na fantasia e realizado em sonhos e não em realidade.

Higher (Música de Creed)

When dreaming I'm guided through another world
Time and time again At sunrise I fight to stay asleep
'Cause I don't want to leave the comfort of this place
'Cause there's a hunger, a longing to escape
From the life I live when I'm awake

So let's go there, let's make our escape
Come on, let's go there Let's ask can we stay

Can you take me higher? To a place where blind men see
Can you take me higher? To a place with golden streets

Although I would like our world to change
It helps me to appreciate Those nights and those dreams
But, my friend, I'd sacrifice all those nights
If I could make the Earth and my dreams the same
The only difference is To let love replace all our hate

On high I feel like I'm alive for the very first time
Set up high I'm strong enough to take these dreams
And make them mine


Amor, Desejo Fantasiado e Desamparo Infantil

Uma música genial. Demonstra a luta entre o ID e o Superego e um dos múltiplos caminhos e processos de defesa da manutenção do equilíbrio da psique que o Ego utiliza.

O Ego é a instância que tenta lidar com os desejos inconscientes do ID e as repressões do Superego contra esses desejos. O Ego tenta lidar com esses desejos e repressões considerando o contexto da realidade do ser humano.

O ID é a parte desejosa da psique. Seus desejos se consideram Pulsões. O Superego é a instância que possibilita a socialização do homem reprimindo a realização exagerada dos desejos. Sua maior arma é a imposição de culpa para gerar a repressão dos desejos do ID.

Numa dessas batalhas entre ID e Superego, o Ego pode fantasiar a realização do desejo do ID através de sonhos diurnos como um processo de defesa contra a culpa imposta pelo tirano Superego.

Como não pode satisfazer a pulsão na realidade através do objeto de desejo, pois o Superego não permite, o Ego cria uma situação fantasista para realizar parcialmente essa pulsão do ID.

Entretanto, este destino que se confere ao desejo é pouco eficiente, já que é fantasiado. Logo, é uma realização parcial do desejo. Na música se mostra a luta e a estratégia do Ego, mas não o resultado dessa batalha psíquica.

Fantasiando, o Ego possibilita a satisfação parcial das pulsões do ID, enganando-o e satisfazendo igualmente o Superego ao reprimir a satisfação da pulsão do ID rumo a um objeto da realidade.

Nessa jogada toda do Ego que tenta satisfazer o ID e satisfaz o Superego ao mesmo tempo, o único que ‘fica na mão’ é o corpo, a plataforma da tensão somática do desejo.

Isso significa a realização parcial do desejo do ID. Quem acaba pagando com isso é o corpo, é o organismo que alucina através da psicossomatização, pois a tensão da pulsão que está no corpo não é descarregada por esse processo fantasiado do Ego.

Toda pulsão possui um componente energético (somático, corporal) e outro representacional (simbólico, psíquico). Ou seja, o desejo ou a pulsão está localizado entre o psíquico e o somático. Um objeto físico desejado na realidade traz uma satisfação psicológica e a diminuição da tensão corporal.

Portanto, por isso o método fantasista de realização de desejo é parcial, pois ele só satisfaz a parte simbólica das pulsões e não a parte somática da pulsão. O corpo continua com a tensão oriunda da pulsão, do desejo. O texto Entre Tapas e Beijos aborda o resultado do desejo parcial, que é a relação de amor e ódio.

Num dos processos de defesa do Ego como mostrados na letra Higher, a parte simbólica e representacional da pulsão o Ego dá conta fantasiando, já com a parte somática do desejo o Ego não tem essa eficácia.

O corpo insatisfeito e inserto na tensão somática do desejo alucina através da psicossomatização. Com isso, o corpo pode surpreender-se em Pânico, por exemplo, em histeria de conversão.

Resta-nos uma pergunta: como o Ego aprendeu a dar conta da pulsão fantasiando a realização do desejo? Temos que voltar lá atrás e pôr nossos olhos sobre a relação mãe-lactente (bebê).

Uma ausência prolongada da mãe desencadeia o estado de vivências de satisfação alucinatória do desejo do lactente. Como o lactente não tem a mãe na hora em que a necessita, alucina o objeto de seu desejo naquele momento. A partir daqui, cria-se o estado psíquico de desamparo.

Este estado de desamparo típico futuramente poderá ser um fator propiciador (e não desencadeador) do Transtorno do Pânico, por exemplo. Uma psicossomatização que se explica em muito pelo estado de desamparo do sujeito.

Não se pânica por causa do amor, mas por causa do estado de desamparo provocado pela ausência dele. Na letra não se demonstra o pânico, somente a estratégia fantasista do Ego, uma realização alucinada do desejo aprendida desde o estado de lactente. Veja o texto Carência Afetiva que aborda a temática.

O desejo do ID nessa música é um outro ser humano. É o amor dirigido a uma outra pessoa. Um desejo que não pode ser satisfeito na realidade. Um desejo que só em fantasia em realiza, mas parcialmente.

O resultado dessa defesa do Ego a música não mostra, mas fica evidente nas observações da clínica que a ausência do amor coincide com um estado de desamparo típico do ser humano e isto pode possuir alianças fortes com a psicossomatização através do pânico.

Pânico pode não ter nada a ver com amor reprimido, mas essa estratégia fantasista do Ego para lidar com o amor reprimido demonstrada na música só pode ter sido aprendida na infância através do desamparo sofrido pelo lactente.

O desamparo sim tem relações fortes com o Pânico na clínica, a partir do momento que é a expressão somática de um medo, de um receio de abandono e da falta de habilidade de lidar com a desproteção.

O Ego desamparado sem proteção pode se submeter de forma masoquista a um repressor-protetor. Aparentemente o Ego é protegido à custa da submissão dos desejos do ID a esse outro que funciona como protetor. Esse protetor pode ser uma mãe, um pai, o esposo, etc.

Esse protetor alimenta uma relação de submissão com base em culpas e medos. Esse protetor é como se fosse um superego exterior da pessoa que impõe vontades tiranas. O Ego tem proteção e também submissão a esse outro que sempre mantém o status quo da relação através da imposição da culpa e do medo.

A pessoa se sujeita então a um repressor como forma de ganhar a sua proteção e com receio do desamparo, submete-se para não perder a proteção que usufrui na relação. O texto Formas da Paixão descreve um pouco os aspectos privilegiados por homens e mulheres numa relação.

Submissa, a pessoa nega-se. Seus desejos e projetos pessoais não são postos em primeiro plano, mas sim os valores exteriores, os valores sociais, as requisições desse Superego exterior, protetor e tirano.

O resultado disso é a vivência de uma experiência sufocante, mas tolerada à custa da psicossomatização. Uma experiência onde não se vive a própria vida, mas a vida planejada por outro.

O resultado provável disso o médio e longo prazo? Depressão confundida com síndrome ansiosa. Uma depressão pode ser desencadeada. Na verdade o limiar que divide depressão e ansiedade é fino.

A pessoa nesse caso apresenta depressão por desistência dos projetos pessoais, já que se desligou da sua da própria realização dos desejos íntimos. O mundo perde sentido. Há uma depressão manifestada por sintomas ansiosos.

Este tipo de depressão se manifesta por sintomas parecidos com os de síndrome ansiosa. Em clinica é diagnosticado com Ataques do Pânico, mas pode ser a depressão atípica, explicada por essa relação masoquista com um Superego exterior protetor.

Outros sintomas são a vontades de morrer e de se suicidar aparecem em alguns indivíduos. A desesperança, a desistência de projetos pessoais de longo prazo como estudos e ascensão em carreiras, a resignação com as perdas e com as ausências, etc, ou seja, a desistência de si mesmo e da própria vida pulsional leva à depressão.

Portanto, uma atenção adequada na infância pode evitar a Depressão e o Pânico no futuro. É na infância que o Ego aprende a lidar com a realidade que o cerca e com as instâncias psíquicas ID e Superego.

A relação que temos hoje com a realidade que nos cerca se explica em muito através das nossas relações parentais mais arcaicas. Mantemos hoje o que aprendemos como eficaz naquela época. E podemos sofrer hoje por conta daquele aprendizado.

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