PSICOPATOLOGIAS DA CONFIANÇA NA LIDERANÇA


Este texto está publicado no Instituto Jetro de Liderança, junto com outros textos.


Já abordei a temática de As 7 Dimensões da Liderança, onde faço uma análise da liderança, propondo uma ótica integral sobre esse fenômeno.

A confiança pode ser uma característica individual através da obstinação para se seguir um objetivo. Ou ainda um fenômeno grupal como a segurança que os liderados experienciam na liderança.

Confiança é uma certeza sobre alguma coisa. Em alguns grupos cristãos essa certeza é embasada biblicamente, enquanto noutros, em mecanismos psicopatológicos na relação do liderado com um líder carismático e centralizador.

A confiança é entendida especificamente em cada grupo e sua construção está atrelada de alguma forma ao poder exercido pelo líder. O que embasa a confiança é a identificação psicológica, que tanto pode ser sadia ou nociva.

A identificação como fenômeno interpessoal natural

O embasamento da confiança se dá pela identificação. A confiança estabelece uma co-relação entre aspectos referenciados de duas psiques para a criação de vínculo. Sem o co-relacionamento não acontece a confiança. Esse co-relacionamento chama-se identificação.

A identificação é um fenômeno natural das relações humanas, mas pode ser causada por fatores patológicos. A atração patológica na identificação se explica devido as faltas básicas na personalidade. Pode ser mesmo uma relação patológica que ainda assim gerará confiança.

A identificação psicológica é um constructo pertinente à confiança. O fenômeno da identificação é complexo, mas pode ser explicado didaticamente pela atração que a pessoa experimenta por outra devido a algumas semelhanças ou dessemelhanças psicológicas e comportamentais entre elas.

A identificação não pode ser reduzida à admiração, ou à relação de analogia entre semelhantes. Precisa ser entendida como uma assimilação de características psicológicas entre dois seres. Essa assimilação é uma apropriação genérica estabelecida através da ligação psíquica.


Psicopatologias da confiança através da identificação

A idealização acontece por o líder carismático possuir características esperadas, admiradas e ou compartilhadas pelo liderado. O liderado, por outro lado, pode projetar no líder essas características. Assim, gera-se a idealização.

A idealização é um tipo de identificação e pode ser muito instável quando acontece nas relações de líder carismático, pois toda idealização contrabalanceia-se entre os sentimentos de amor e de ódio de maneira súbita.

Um líder é repelido justamente por possuir características desejadas pelos liderados que não as possuem. Assim a partir da identificação idealizada, gera-se uma relação de identificação do tipo invejosa.

Outro tipo de identificação psicopatológica nas lideranças é a do tipo ego-auxiliar. Liderados com funções do ego deficientes tais como pensar, raciocinar, analisar, que se unem a líderes autoritários tendem a estabelecer uma relação de dependência egóica do tipo ego-auxiliar. 

Essa identificação tipo ego-auxiliar pode ser produzida por líderes centralizadores ou autoritários mesmo com liderados de boas habilidades de ego, haja vista que a centralização do poder nas mãos do líder gerará um condicionamento ministerial e o líder passará a hiperfuncionar e os seus liderados, sem autonomia, não terão a oportunidade de desenvolver a proatividade. Essa identificação gera dependência psíquica por ausência da autonomia.

A  patologia se dá porque a centralização diminui a capacidade de coesão grupal, pois os liderados não estão comprometidos com a direção e as metas do grupo, já que são construções solitárias do líder.

Uma última forma de identificação patológica é o mutualismo. As relações interpessoais se estabelecem devido às trocas mútuas que acontecem entre líderes e liderados. Essas trocas podem ser benefícios psicológicos que o liderado recebe da relação, como um cuidado diferenciado, o discurso agradável para necessidades psicológicas do liderado e etc.

No mutualismo o interesse do Reino é perdido porque os interesses individuais sobrepujam. Tais interesses quando satisfeitos são fatores necessários para o estabelecimento da confiança. Entretanto é preciso entender que a categoria interesse é genérica, não se atendo a aspectos materiais somente.


A identificação base 
Na identificação patológica de qualquer tipo, tanto a razão é posta de lado a partir do momento em que um líder é idealizado, o que gera uma suposta confiança. Entretanto a confiança adequada de um cristão precisa advir não da identificação idealizada com o líder, mas pelo cumprimento dos mandamentos bíblicos por parte do líder. 

Por isso, alguns cristãos confundem identificação com confiança. É também essa identificação idealizada que cimenta as relações de grupos religiosos dos mais distintos proporcionando liderança inquestionável de um líder carismático.

Por se ingrediente fundamental sobre o qual se embasa a influência, a confiança precisa ser desenvolvida sobre constructos sadios. A identificação sadia se estabelece a partir do momento em que a autonomia e a individualidade dos liderados são preservadas. Essa autonomia já está proporcionada pelo Espírito através do sacerdócio universal. 

Portanto, os líderes devem analisar quais as tipologias de confiança se estabelecem em suas relações ministeriais. É preciso que a liderança não esteja ameaçada por fenômenos psicopatológicos da identificação. A confiança precisa ser biblicamente embasada na figura de um servo Cristo. 

Leia As Leis do Fenômeno Liderança para ter um entendimento mais completo sobre o ato de influenciar. 


Dr Marcelo Quirino
Psicólogo Clínico

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