A eficácia de um processo de Aconselhamento depende diretamente de fatores relacionados à aplicação de determinadas técnicas de manejo coerentes com o grupo aconselhado. Estas técnicas devem também estar de acordo com os transtornos e disfunções observados durante o processo de aconselhar.
A eficácia refere-se à capacidade de o aconselhador alcançar um resultado e à capacidade de conduzir o aconselhando a um objetivo que diminua o sofrimento humano através de aplicação de técnicas específicas.
Já escrevi em outra oportunidade sobre os Princípios Básicos do Aconselhamento, que são diretrizes a serem seguidas dutante o processo de aconselhamento. Agora falemos dos fundamentos.
Entretanto, o aconselhador não deve somente se preocupar com a eficácia do ato de aconselhar. Deve igualmente atentar-se para a eficiência de seus procedimentos enquanto emprega determinadas tecnologias de escuta e de manejo.
Entretanto, o aconselhador não deve somente se preocupar com a eficácia do ato de aconselhar. Deve igualmente atentar-se para a eficiência de seus procedimentos enquanto emprega determinadas tecnologias de escuta e de manejo.
Aconselhar não se resume somente à aplicação de um conjunto de técnicas especificas. Ao observar a eficiência desse processo, evita que os procedimentos tornem-se estéreis para proporcionar mudanças.
A eficiência refere-se à natureza do vínculo e ao tipo de relação estabelecida durante o aconselhamento entre aconselhador e aconselhado. A natureza deste vínculo deve ser de confiança e o tipo de relação deve ser de colaboração mútua. Saber estabelecer este tipo de relação interpessoal é tão ou mais importante que dominar o manejo de técnicas de aconselhamento.
Portanto, proporcionar uma relação interpessoal positiva para o aconselhamento não é uma de qualidade relacional que surge espontaneamente. É um aspecto que precisa ser desenvolvido pelo conselheiro para tornar proveitoso o processo de aconselhar. O texto As 7 Dimensões da Liderança aborda um pouco essa necessidade de o líder desenvolver-se nas 7 áreas básicas da liderança.
As competências para a efetivação do vínculo
O ser humano é um ser de caráter bio-psíquico-sócio-espiritual. É ainda um ser dinâmico, relacional, dialógico e complexo. Para os cristãos ainda soma-se o fato de por natureza da criação é decadente psicologicamente pelas circunstâncias do pecado.
Portanto, o conselheiro deve levar em conta o tipo de relação mais adequado para cada aconselhado e monitorar a espécie do vínculo que estabelece com cada pessoa durante o processo.
Para isso, o conselheiro precisa se municiar de algumas competências básicas. Por competência entende-se a capacidade e a habilidade que possui para efetivar e manter vínculos interpessoais. Deve, portanto, ter conhecimento teórico para estabelecer a relação e ao mesmo tempo habilidades práticas de manejo para mantê-la.
Estabelecer e manter vínculos não são por si mesmos suficientes. Eles precisam ser de uma natureza e tipo específicos para cada grupo atendido e para cada transtorno acolhido. Porém, todos eles possuem um objetivo geral.
O objetivo geral dos vínculos de AC (aconselhamento) diz respeito ao estabelecimento de um estado de confiança no aconselhado. Ele precisa ver no pastor-aconselhador alguém em quem confia para manejar o processo com certa regularidade, propriedade e ética.
Neste sentido, há dois tipos de confiança. A confiança inicial, a que não depende do processo em si para que a ovelha busque o pastor. E a confiança a ser desenvolvida pelo aconselhador durante o AC, que dependerá do manejo daquele vínculo específico com o aconselhado para que ele continue em aconselhamento.
Portanto, o conselheiro precisa desenvolver um vínculo interpessoal favorável à mudança fundamentado no estado de confiança entre aconselhado e aconselhador.
Confiança poderia ser traduzida didaticamente como a segurança que o aconselhado possui para se submeter a um processo de AC e de se engajar abertamente nele e arcando com as suas responsabilidades sem sustentar dúvidas profusas sobre a idoneidade geral do aconselhador para a direção do processo. Assim sendo, a imagem do aconselhador perante a comunidade também é de crucial importância.
Este estado de confiança é assim chamado por se desenvolver em quatro esferas principais do comportamento do aconselhado. A pessoa precisa ter confiança para: Buscar, Falar, Engajar e por fim para Seguir no processo.
Estes quatro fatores que fundamentam a relação de confiança precisam ser desenvolvidos pelo aconselhador a partir da apropriação de competências específicas em determinadas áreas.
No texto A Função de Escuta e o Papel de Aconselhamento na Liderança há dicas objetivas e práticas para efetivação do vínculo.
No texto A Função de Escuta e o Papel de Aconselhamento na Liderança há dicas objetivas e práticas para efetivação do vínculo.
Os quatro setores formadores do vínculo
Cada uma desses quatro esferas de comportamento corresponde a um campo de competências específicas que o pastor deve dominar para manejar com qualidade o processo de AC e fortalecer a confiança no vínculo.
As competências do aconselhador se localizam em quatro âmbitos primordiais:
1 - O que permite ao aconselhado Buscar o processo de AP é o âmbito técnico;
2 - O que proporciona às pessoas o Falar sobre a problemática no aconselhamento é o âmbito ético;
3 - O que proporciona Engajamento da ovelha é o âmbito psicológico;
4 - E por fim, o que permite ao aconselhado Seguir diretrizes propostas é o âmbito estratégico do vínculo interpessoal;
O campo das competências técnicas inclui o currículo do aconselhador com o aconselhamento, seu domínio doutrinário, suas experiências em aconselhar, o seu conhecimento geral e especifico da matéria e a sua sabedoria espiritual, além do próprio equilíbrio e maturidade psicológica.
São competências da ordem dos procedimentos táticos e da ordem dos passos básicos periciais para manejar a situação de aconselhamento, tais como, saber ouvir, aceitar a problemática, empatia, estabelecimento do contrato verbal, etc. Sem essa capacidade o vínculo pode ser estabelecido, mas não há de fluir com eficácia.
Já o âmbito ético inclui a sustentação de valores pastorais que se expressam através de posturas e de atitudes. Inclui-se aqui o compromisso ético com o vínculo de aconselhamento, o testemunho pessoal, a ética e a garantia de sigilo.
São valores que se demonstram por atitudes e na ocasião de negociar o contrato verbal do aconselhamento. Estes valores devem refletir nas posturas do conselheiro diante da comunidade a fim de que possibilitem o fortalecimento do vínculo de confiança no aconselhamento geral ou pastoral.
O vínculo de confiança é ainda fortalecido à medida que o aconselhado se sente mais compreendido e conhecido. A empatia e o conhecimento da disciplina psicológica possibilitam ao aconselhador dominar o âmbito psicológico do processo de AC.
Óbvio que um aconselhador não é um psicólogo, entretanto um conhecimento básico deve ser dominado para que se entenda minimamente o manejo que ao aconselhado faz da sua fé a partir de sua estrutura psicológica.
Quanto maior é o nível de conhecimento no âmbito psicológico, maior é a profundidade do AP e mais engajamento se consegue do aconselhado. Há casos em que, para os cristãos, a fé não é vivenciada saudavelmente devido a problemas psíquicos.
O âmbito estratégico diz respeito às escolhas da problemática a ser inicialmente abordada no AP. O aconselhador deve ir abordando os problemas mais fáceis para os mais difíceis a fim de contornar resistências. Isso possibilita confiança para seguir diretrizes propostas no processo de AP.
O aconselhador deve ainda estar atento para as resistências à mudança do aconselhado devido a um processo chamado ganho secundário. Esse processo permite ao aconselhado obter alguns benefícios com o seu comportamento problemático. Por exemplo, marido muito ciumento possui mais atenção da esposa afetivamente distante, logo, seu ciúme excessivo traz para ele o beneficio de ter mais afeto.
Para os cristãos vale ressaltar que a idoneidade espiritual é considerada uma competência cardinal por ser o marco óbvio inicial para um aconselhador cristão. É essa idoneidade que permite a ovelha buscar o aconselhador enquanto líder espiritual para falar sobre sua problemática, se engajar no processo e seguir as diretrizes do AP (aconselhamento pastoral).
O desafio do AC é a edificação da relação
Portanto, fica esclarecido que a relação de confiança entre aconselhando e aconselhador é um fenômeno complexo, composto por alguns fatores específicos bem demarcados e que podem ser manuseados para se fabricar um determinado tipo de relação no AC.
O vínculo de confiança não é uma qualidade de relação interpessoal que se deve ao acaso, a aspectos de carisma e ou de identificações entre personalidades, mas sim ao correto manuseio de técnicas e ao desenvolvimento de competências especificas no aconselhador.
Entretanto, possuir a capacidade de manejo de técnicas de escuta não garante por si só o estabelecimento e a manutenção de um vínculo de aconselhamento capacitado a produzir mudanças de postura espiritual e comportamental no aconselhando.
Percebe-se que tão ou mais importante que o domínio e o manuseio correto de tecnologias é a produção de uma relação vincular adequada.
Com isso, se constrói um cenário de confiança mútua e um estado de comprometimento com o processo de Aconselhamento, que são motivações adequadas para conduzir a pessoa à saúde espiritual e ao crescimento psicológico.
Dr. Marcelo Quirino
Psicólogo Clínico - UFRJ