Rumando Juntos para a Feliz Idade


Texto Elaborado para a Revista Casal Feliz da CBB

Envelhecer é o único rumo certo para todos. E ao contrário do que muitos pensam, esse processo não começa aos 60, mas sim desde que nascemos. Portanto, envelhecer bem e com qualidade não é uma escolha, é um dever de qualquer cristão.

Quando se fala em envelhecer bem, nos referimos a uma ação preventiva para evitar as ações corretivas na terceira idade, proporcionando e mantendo a saúde. Para isso, hoje dispomos de tecnologias e conhecimento suficientes para atravessar com bem-estar e longevidade essa fase da vida. Contudo, se preparar não é responsabilidade exclusiva do indivíduo que envelhece.

Qualidade de vida na terceira idade dá trabalho. É necessário disposição, motivação e planejamento. Apesar disso, é um trabalho que poupa estresse e devolve saúde ao templo do Espírito. Portanto, precisamos de coragem e sabedoria para tal tarefa.


Representação social do envelhecer

Neste mundo diz-se que o velho não vale nada. Isso porque o novo representa com toda sobrepujança a vitalidade do corpo perfeito. Essa é uma falsa ideia tão forte que contamina não somente a mentalidade dos jovens, mas inclusive os que já estão na idade terceira e assim se evitam parecer anciãos. 

É preciso entender ainda que as categorias de velho e novo são definições criadas por uma sociedade que cultua o corpo e o consumismo. Estamos no mundo da descartabilidade, do pragmatismo e do utilitarismo. Nesse cenário, o que se considera velho é descartado. Essa é uma percepção originada no nível econômico. Assim, a velhice é uma realidade culturalmente construída e não questionada pelos cristãos.

Essa categoria de velho serve como carapuça para produzir uma condição mental em certas pessoas que se categorizam como descartáveis e sem valor. É assim no mundo da moda, da economia, da mídia, do trabalho e até mesmo nas igrejas.

A conseqüência dessa representação social negativa sobre a terceira idade traz uma rejeição social que proporciona ao ancião um autoconceito negativo do qual precisa se livrar. Assim, procura-se loucamente retardar esse processo de envelhecimento seja pelo vestuário ou por cirurgias estéticas. Quantos não vemos mulheres de 45 com roupas de meninas de 15 anos?

Tal percepção negativa sobre a terceira idade se transforma num estigma e se deve em grande parte ao fator econômico capitalístico de ideologia do individualismo. O individualismo é uma mentalidade que rege os países ocidentais, ao contrário de outras sociedades tradicionais regidas por clãs, onde o papel do idoso é crucial. 

Além do luto de algumas habilidades, o idoso ainda tem que enfrentar as representações sociais sobre a terceira idade. Psicologicamente isso traz conseqüências diretas sobre o senso de significado, valor pessoal e sobre a autoaceitação. Assim, devido às valorações sociais o idoso paga psiquicamente com a autoestima baixa, como se já não bastassem as pressões internas das limitações psicofisiológicas.

Dessa forma, há um movimento duplo que traz à terceira idade uma imagem negativa: por um lado a representação social que temos do velho e por outro a ausência de sabedoria para envelhecer bem em todos os sentidos.


Bem estar psíquico na feliz idade

Muitos talvez perguntem: por que devo envelhecer bem e me preocupar com qualidade de vida? Não poderia simplesmente descansar em paz e deixar meus filhos cuidarem de mim assim como eu cuidei deles um dia?

Entre alguns cristãos não há sabedoria para viver bem. Há pessoas que não cuidam do corpo, das emoções, do espírito e da cognição, do social e do lazer. Mas a bíblia nos confere coragem e sabedoria para envelhecermos bem.

Primeiramente temos um principio bíblico de conduta cristã que normatiza nossa relação com o corpo. Temos biblicamente o dever de cuidado com o templo do espírito. Nos foi dado dons para servir ao corpo de Cristo, e a terceira idade possui dons particulares não encontrados na juventude. Desperdiçar esses dons é uma sabotagem contra o reino.

Em segundo lugar, o princípio bíblico de amor ao próximo deve ser entendido de maneira social. O amor ao próximo passa pelo cuidado que dispensamos ao nosso corpo durante toda nossa vida. Não pensar em envelhecer com qualidade é uma forma de egoísmo que traz conseqüências sérias para quem nos cerca, já que estamos em unidade corporal.

A saúde na terceira idade está relacionada tanto a uma conservação das potencialidades psíquicas e corporais quanto a condições socioeconômicas que uma sociedade oferece ao indivíduo.

Para a feliz idade, há cinco níveis psicossociais de promoção da qualidade de vida. Em resumo, o código da terceira idade quando fala em dignidade, está se referindo ao atendimento básico de todas essas dimensões como condição para o envelhecimento saudável e digno.

O primeiro é o nível social que abrange relacionamento social, papéis sociais, valoração social, suporte familiar, percepção social, lazer, etc. O Orgânico que diz respeito à saúde corporal, remédios, consultas, programas preventivos e corretivos, etc.

O nível ambiental que inclui as condições arquitetônicas, as econômicas, os recursos institucionais e médicos, o clima, etc. O espiritual que abrange suporte espiritual, ministerial, comunhão, oração, estudos, dentre outros.

E por fim o nível psíquico, que inclui a capacidade para enfrentamento dos infortúnios, luto, autopercepção, capacidade cognitiva, formas de relação social, histórico de vida, apoio psicológico, etc.

O objetivo da velhice deve ser o desenvolvimento de sabedoria e o acúmulo de experiências analisadas. Entretanto, isso é um modo de vida que deve ser exercido desde a juventude. Precisamos ter isso em mente para que não recebamos o choque inesperado da terceira idade. Se preparar para a velhice é necessário tanto financeira, quanto espiritual e psicologicamente.

Para que a juventude chegue bem à terceira idade é indispensável uma série de fatores conjugados: saúde orgânica, mental (neuronal), psicológica, nutricional, lazer, inteligência emocional (saber lidar com expectativas, frustrações, culpas, etc), aprendizagem de coisas novas, mente aberta, novas pessoas, novas atividades e prazer.

A saúde da feliz idade passa ainda pela adequada resolução dos lutos do corpo, da mente, do social e do status, do papel social e profissional, da mudança na estrutura familiar, das expectativas e dos sonhos não-realizados e luto da sexualidade.

Chama-se luto, pois o processo do envelhecer é parecido psicologicamente com o que acontece no luto. Há uma negação da perda e da realidade, algum grau de irritação relacionada à perda da habilidade e ou função ou papel social, há uma negociação com Deus, presença de desalento e por fim a aceitação da nova fase da feliz idade.

Quanto mais o cristão desenvolver esses recursos psicológicos, melhor qualidade de vida terá. Para lidar com o envelhecimento, devem ser desenvolvidos a capacidade de adaptar-se às diversas perdas, o senso de autodomínio, a autonomia, a manutenção dos laços sociais, a continuidade dos papéis sociais e o estabelecimento de novas relações sociais.

Essas habilidades objetivam amenizar toda a carga de estresse e a angústia existencial. Quanto mais houver recursos para lidar bem com esses sentimentos, mais qualidade de vida teremos. A medicina e a psicologia sugerem algumas atitudes que já estão presentes na bíblia.

Os anciãos devem ser exortados a serem temperantes, sérios, sóbrios, sãos na fé, no amor e na constância. As mulheres idosas, semelhantemente, devem que ser reverentes no seu viver, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras do bem, para que ensinem as mulheres novas a amarem aos seus maridos e filhos, a serem moderadas, castas, operosas donas de casa, bondosas, submissas a seus maridos, para que a palavra de Deus não seja blasfemada.

Entretanto, um ponto perigoso para a terceira idade é a cauterização da motivação para aprender coisas novas. Isso impede o desenvolvimento de uma vida mais saudável. Essa cauterização pelas novidades pode ser resultado de uma depressão latente não diagnosticada e até mesmo alimentada pelo idoso que se afunda nesse estado com forma de culpar-se por arrependimentos passados.

Esse estigma retira a dignidade da pessoa idosa. Para ter dignidade, é necessário devolver ao idoso a vida social, o lazer, a ocupação da mente, do corpo e da alma com atividades prazerosas e ainda respeitar suas opiniões e decisões.


O envelhecimento saudável é um compromisso social

Todos os cuidados que a medicina apregoa sobre qualidade de vida na terceira idade já são preceitos bíblicos. Como o cuidado com o corpo, o zelo pelas relações sociais e de lazer, o desfrutar da pessoa amada na juventude, o amor, o fazer tudo bem feito.

A ação da igreja para a promoção da qualidade de vida de sua membresia deve por obrigação alcançar os cinco níveis supracitados. Em todas as esferas a igreja pode e deve promover ações de suporte para o envelhecimento satisfatório.

O envelhecer bem ultrapassa as meras condições psicológicas de um indivíduo. Alcança também as condições sociais e ambientais nas quais o indivíduo habita. Isso quer dizer que envelhecimento satisfatório só é possível através do suporte oferecido pela mobilização social. É no cuidado com os anciãos que demonstramos o amor cristão ao próximo.

O papel da igreja é primordial: promover mudança de mentalidade e percepção, saúde da feliz idade e preparo para o envelhecimento. Nosso papel de cristão passa ainda pela crítica social a esse estigma que paira sobre a feliz idade. Amor ao próximo se faz através da luta pela devolução da dignidade aos idosos.

As ações institucionais da igreja passam pela promoção e manutenção de um ambiente saudável, tanto arquitetônico quanto social e ministerial. Nesse ambiente há o objetivo de desenvolver oportunidades de relacionamento social, de lazer e de desenvolvimento ministerial. Outras ações incluem o apoio psíquico e espiritual, os programas terapêuticos, o estímulo de ações voluntarias e os projetos sociais para idosos.  

Apesar de todas essas ações, algo pode sabotar a qualidade de vida: um estado psíquico do próprio idoso. A prática clínica de Psicólogo comprova que devido a esse contexto cultural, um dos maiores problemas da terceira idade é a depressão, que os desmotiva e consome. Esse estado depressivo é tão forte que os faz entregar os pontos e se isolarem esperando pela morte. Nesse estado, a preocupação com qualidade de vida não existe.

Um dos equívocos que os fazem permanecer nesse estado depressivo são as expectativas frustradas de recompensa e reconhecimento deste mundo. Mas o mundo jaz no maligno e tem a tendência de desprezar os anciãos. Portanto, meus amados irmãos, sede firmes e constantes, sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que o vosso trabalho não é vão no Senhor.

Esse estado depressivo demonstra que a motivação para a luta está errada. A motivação para continuar lutando é Cristo. Devemos agradar ao nosso general e quando assim procedemos não damos espaço para a depressão, pois não esperamos somente deste mundo ingrato.

Ei terceira idade, vós sois a geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido, para que anuncieis as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Saiba que vocês não servem à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus, porque como fomos aprovados de Deus para que o evangelho nos fosse confiado, assim falamos, não como para agradar aos homens, mas a Deus, que prova os nossos corações.

O combate só acaba com a morte e não com e terceira idade. O mundo precisa da sabedoria que você acumulou e desenvolveu a fim de orientar os mais jovens na tarefa de combater o bom combate. Não pensar em envelhecer com qualidade é entregar os pontos para satanás e para este mundo. A tarefa do ide é terrena enquanto durarmos. Portanto, ide, mesmo se for devagar, porque estamos juntos.

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