FORMAS DA PAIXÃO FEMININA E MASCULINA


A relação de paixão entre o homem e a mulher passa por alguns aspectos básicos que determinam a manutenção do vínculo e a perpetuação da relação sólida.

Quando a mulher perde o vislumbre e a admiração pelo homem, perdeu-se a relação sólida. O homem precisava contar vantagem algumas décadas atrás, mas hoje ele precisa fazer, ter a atitude-ação. A mulher é presa ao homem pela atitude, ação firme e decidida, mas sensível aos apelos femininos. Ela precisa ter um homem que ela ad-mire, olhe. E esse homem não pode estar parado, tem que estar em movimento. Pois é chato olhar para algo que permanece parado.

Esse movimento sempre busca proteção e amparo ao feminino, como se pelo amor se movimentasse para ela, mas sem com isso perder a identidade de um corpo sólido e existente para o qual volta-se a mulher a fim de se proteger. Um corpo inexistente não protege. A raiz disso é o gozo desbussolado de uma mulher. Ela goza (sentido psicológico do termo) por todos os lados.

O homem, já tem o falo organizador de seu gozo, só goza por um lado. Para provocar o vislumbre, o homem precisa sair da multidão, se destacar e suportar esse destaque sem se angustiar com ele. Receitas fixas de como provocar o vislumbre numa mulher não existem e não podem ser criadas, pois cada mulher é única. Para uma o vislumbre é uma coisa e para outra, outra coisa. O homem precisa ser dominado, hipnotizado. Seja por uma admiração, seja pelo tamanho do seu falo, seja pelo respeito à sua fala.

Quando o homem perde a curiosidade/encanto/interesse/hipnotismo/domínio/escravidão pela mulher, perdeu-se a relação sólida. O homem não pode perder o encantamento. Esse encantamento é algo mágico, oculto e não explicado.

Para cada homem é uma coisa e não existe receita fixa de como encantar um homem, só de como encantar bobos-homens para fazê-los hipnotizados. Esse encantamento deve guardar algo de oculto, de não revelado. Por isso uma calcinha pendurada no banheiro à vista do homem é desestimulante, pois se perde a ação do oculto.

O que enlouquece um homem não é o ver, é o quase ver para que se possa estimular a imaginação. O gozo psicológico de um homem é potencializado quando ele pode realçar as próprias fantasias. Daí que hoje os homens perderam o apetite em caçar, pois suas fantasias não estão sendo estimuladas pelo quase-ver, haja vista que hoje tudo vêem nas roupas transparentes e ou inexistentes. A ausência de roupa provoca a libido, mas a meia-cobertura do corpo a hipnose.

Por isso uma mulher mãezona é adorada por alguns, ou uma mulher mãezona malvada por outros, pois se encaixam em fantasias preexistentes. Uma receita fixa de encantamento de homens executada liberalmente não encanta tão somente homens bobos sem identidade, o homem interessante primeiro vislumbra a mulher e juntos caem em enamoramento duplamente recíproco.  Assim como uma mulher também não é explicável.   

O homem é preso à mulher pela curiosidade. O que prende um homem a uma mulher são vários aspectos, já a mulher é uma só: a ação. Por isso não importa tanto a aparência. A mulher não se relaciona exclusivamente pela aparência do homem. O homem precisa que encontre na mulher a expressão de sua fantasia e que ela permita a existência dessa fantasia. Para alguns essa fantasia pode ser e pela amamentação, para outros de dominação.  É a curiosidade masculina que o mantém hipnotizado à mulher.

A conseqüência disso é o olhar fixo a boca aberta e a língua para fora. Como manter essa hipnose é o desafio das mulheres e passa longe do exclusivismo do uso libidinoso do corpo. É antes resultado da feminilidade integral e da sensibilidade do homem ara ver as metamorfoses de sua mulher.

Em ambos os casos, é uma ação de engrandecimento de ego e reafirmação de identidade que traz gozo psicológico e amarração vincular. 

Engana-se quem pensa que o cotidiano do casamento pode acabar com a hipnose ou com o vislumbramento. Isso pode ser constantemente recriado para evitar a rotina. Basta olhar, ser sensível, criativo, querer e amar.  

Mas o grande desafio deste enamoramento entre feminino masculino é a manutenção da identidade. Algo ameaçado pelo ciúme, pela possessividade e pela necessidade de controle, pelo egoísmo e pela traição. Como conseqüência, quando se quer tanto o outro para si a fim de consumi-lo e ou tê-lo como servo pode arruinar o enamoramento e ocasionar enfraquecimento do vínculo.  

O bom relacionamento é aquele que funde, mas paradoxalmente mantém a individualidade num equilíbrio que é quase inalcançável. É justamente sobre essa fusão libidinosa que trato no texto Entre Tapas e Beijos.

Essa fusão faz se perder o vislumbre. Por isso alguns relacionamentos se tornam chatos porque açucarados, sem espaço privado para a identidade do casal. Vislumbre é sempre recriação. Precisamos disso. Surpreender o outro. Ver a transformação do outro ao longo do tempo, invadi-lo com nosso querer, retirá-lo de sua zona de conforto com nosso desejo e mostrar que o mundo e a relação pode ser melhor se quisermos.

O vislumbre mantém a relação, porque a cada momento em que se olha se vê algo novo que sempre esteve lá, mas nunca se viu. Quem nunca vê a mulher mudando a cada semana? O homem que não tem a capacidade de observar essas metamorfoses femininas, não se diverte com o vislumbre, não se enamora, enjoa. E por uma deficiência própria pensa que se relaciona sempre com a mesma mulher.

Olhar detalhista e sensibilidade aos homens. Criatividade às mulheres. Enfim, tudo para provocar e manter o vislumbre, sem o qual só nos resta a sombra da mesmice. 

É desse vislumbre que falo no texto Ainda Bem que não sou Mulher. Um texto-homenagem a elas, as construturas silenciosas da humanidade. Sabemos disso.


Dr Marcelo Quirino
Psicólogo Clínico

5 comentários :

  1. precisa mesmo ler este texto

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  2. Muito ponderada sua colocação... parabéns

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  3. Adorei o seu site. Os textos são de grande-valia para nós, popularmente fãs do D.R. (rs.) Nós, que estamos mais voltadas para a imaginação e a linguagem, que precisamos organizar os sentimentos no relacionamento, podemos ganhar em sensatez ao convite de seus textos à auto-observação.

    Já acreditava que o espaço individual é imprescindível. Mas percebi, por exemplo, que a desculpa de uma personalidade passional não pode ser suficiente para, por exemplo, iniciar um bate-papo em tom de crítica. Há muitas distinções na cosmovisão de mundo da mulher e do homem, e percebê-las é, sim, ato de amor. Negá-las é fugir à felicidade.

    E um saudável amor à todos.

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    1. Bom, há um texto sobre DR no site...
      Gostei de sua forma de escrever...
      Muito bom.
      Abraços!

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